Lau Siqueira fala ao Cultura Viva Comunica sobre ações culturais do Governo
Por Anne Fernandes
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Lau Siqueira (Foto: Jairo Cézar) |
Poeta
brasileiro, escritor desde a infância, autor de cinco livros de poesia, e atual
presidente da Fundação Espaço Cultural da Paraíba José Lins do Rêgo, Lau
Siqueira, fala sobre as iniciativas do governo do Estado, por meio da Funesc,
para a fomentação da cultura popular, e faz questionamentos acerca do Carnaval
Tradição na capital paraibana, com investimento da ordem governamental.
Lau Siqueira,
gestor cultural, e acima de tudo, ativista da cultura, defende por muitas vezes
em seu discurso, o contato aproximativo entre as instâncias governamentais e a
sociedade civil organizada e/ou participativa, enaltecendo o valor da
diversidade cultural, acreditando que o melhor caminho é a promoção do
planejamento estratégico em consonância com a Secretaria de Cultura e fundações
culturais do Estado, atrelado ainda a parcerias com os Estados vizinhos –
Pernambuco e Rio Grande do Norte - , esclarecendo em seu posicionamento que a
cultura é vivaz e necessária, porém com caminhos muito difíceis e desafiadores.
E nessa linha fiel sobre a cultura e suas nuances, Lau nos esclarece pontos
muito importantes e anuncia como será a cultura para o âmbito estadual em 2014.
O posicionamento de Lau Siqueira será publicado no Folia de Rua, tabloide que a Associação Folia de Rua distribuirá
com a população pessoense durante a prévia carnavalesca que acontecerá de tanto
de 21 de fevereiro a 02 de março.
Folia de Rua: Lau
Siqueira, você sendo um gestor cultural, e acima de tudo ativista da cultura,
acredita que a sua ida para a presidência da FUNESC contribui para o melhor
debate e democratização das ações na cultura estadual?
Lau Siqueira: Temos buscado um
modelo participativo de gestão, ouvindo as regiões em rodas de diálogo, em
reuniões com instituições, com os colegas da FUNESC, ou mesmo em conversas
informais onde vamos traçando um diagnóstico do momento que estamos vivendo e
ao mesmo tempo dimensionando os nossos desafios. Em lugar nenhum do mundo é
fácil trabalhar com cultura. Mas, precisamos colocar a mão na massa se não as
coisas não saem do lugar. As regiões da Paraíba aprenderam a caminhar
dentro das suas dificuldades e produzir coisas lindas. Nosso desafio é
articular essas ações culturais para uma atuação dentro do Espaço Cultural e
para uma ação de fomento da FUNESC junto às produções regionais. Pretendo
sim dar a minha contribuição, da mesma forma que Lu Maia e os gestores que a
antecederam. Acho essa diversidade de olhares sobre a cultura é que nos fará
avançar e refletir sobre cada momento.
FR: Quais as
ações de imediato estão sendo estruturadas para a fomentação da cultura
paraibana e a valorização dos seus artistas?
LS: Começamos nossa gestão em setembro com o orçamento de
2014 já definido e com um enorme caos provocado pelas reformas do Espaço
Cultural, Teatro Santa Roza, Teatro Íracles Pires e Cine São José. Um caos imensamente
promissor para o futuro das políticas de cultura, pois não se faz uma gemada
sem quebrar os ovos. A degradação dos espaços culturais do Estado, fruto de
décadas de abandono generalizado, levou o Governo a uma ação corajosa,
necessária, mas que aumenta infinitamente o nosso desafio. O investimento em
obras para a cultura é altíssimo. Nossa tarefa mais importante no momento é a
realização do XIV Festival Nacional de Artes, planejar e fomentar a circulação
dos bens culturais. O FENART vai ser o nosso grande termômetro. Vai ser o
momento de um passo em direção ao futuro, dimensionando a importância de termos
na Paraíba o segundo maior centro cultural do mundo.
FR: Sabendo que
o Carnaval é a grande manifestação da cultura popular no Brasil, o Governo do
Estado da Paraíba, por meio da Fundação Espaço Cultural, pretende investir
nesse evento?
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Lau Siqueira (Foto: Acervo) |
LS: O carnaval é uma ação municipalizada e que,
apesar de ter uma origem na cultura popular, difundiu-se de forma elitizada
pelo país afora. Tem muito pouco de cultura popular hoje em dia. Tornou-se um
avento muito caro e precisa ser revisto enquanto manifestação popular. São
trios elétricos caríssimos, atrações milionárias e uma vocação para a
politicagem de fazer vergonha. No mais, não há como o Estado investir nas
manifestações de todos os 223 municípios, acho que é injusto investir
apenas em alguns. A Paraíba sofreu e ainda sofre horrores com a estiagem e acho
um despropósito esquecermos a devastação causada pela seca, apenas porque é carnaval.
As políticas de cultura, cada vez mais, precisam dialogar com a realidade
do povo porque é dessa realidade que nascem as manifestações populares e as
melhores expressões da sua cultura.
Quanto
ao investimento no carnaval, que eu lembre esse evento nunca esteve no
calendário da Fundação Espaço Cultural. Estamos num ano eleitoral e devemos ter
muitos cuidados para não incorrer em condutas vedadas inventando moda.
FR: Os
investimentos no Carnaval Tradição e no Folia de Rua na capital paraibana serão
em parceria com o Governo Municipal?
LS: Respondo com uma pergunta. Por que uma fundação estadual
deve investir somente na capital? Essa é uma lógica que precisa ser
transformada. E os outros municípios? Será possível que o interior do Estado deva
permanecer excluído? Será que regiões riquíssimas do ponto de vista cultural,
como o Cariri, o Brejo, O Sertão e as outras, devem ser mais uma vez
esquecidas? Ou vamos ter a doce ilusão que o Estado, com tantos problemas
regionais, com regiões absolutamente carentes, vai esquecer tudo porque em João
Pessoa não tem seca, mas tem carnaval? A Conferência Estadual de Cultura deu um
recado muito claro. Nenhum delegado de João Pessoa foi eleito. O interior quer
atenção e o nosso desafio é traçar políticas regionalizadas. A Prefeitura da
capital gastou mais de 500 mil apenas com duas atrações do Réveillon, apesar de não pagar pequenos cachês de grupos locais no Sabadinho
Bom e nem as oficinas da Funjope. Uma
banda ruim e desconhecida como a Sambô, levou a bagatela de R$ 320 mil. Tivemos
neve artificial, um investimento caríssimo em nosso tórrido Verão, fogos
musicais que custam o olho da cara. Estão queimando dinheiro público. Não
creio, portanto, que o município esteja precisando de socorro do Estado para
realizar seu carnaval.
Nota 1.000 para a resposta da última pergunta!! Análise corajosa e realista!
ResponderExcluirAdriana,
ExcluirAcredito que essa entrevista além de esclarecedora, foi de uma sensibilidade realista no que tange à cultura de nossa região.
Antes de tudo, Lau Siqueira foi coerente com sua trajetória em defesa da cultura.
Muito obrigada pela leitura e feedback!
excelente post!
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